CASTELO ONDE TE SONHO POESIA

CASTELO ONDE TE SONHO POESIA

sexta-feira, 8 de agosto de 2014


Continuação de:
MANIÉRE ARGUTIEUSE, por PjConde-Paulino

O Tsunami é teu amigo...O Tsunami foi amigo da tua família...Mortas? Tu é que morreste, pelo egoísmo patético dos teus actos... Perdeste a noção da verdadeira riqueza e das prioridades...”Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta? Não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;” Apoc 3:17


                                                TSUNAMI

                                                                             V

Eduardo foi fruto de um casamento disfuncional. O pai viveu só para os negócios, longe da família. A mãe foi uma mulher só, com muitas carências emocionais; acabou por falecer com trinta e cinco anos, num centro psiquiátrico, depois do marido lhe ter pedido o divórcio para casar com uma mulher mais nova, americana: herdeira de grande fortuna. Eduardo sobreviveu a tudo isto, tornando -se um excelente aluno e um ótimo economista, dedicando-se de corpo e alma ao mundo dos negócios.

Apaixonou-se à sua maneira. Casou. Foi pai de uma menina lindíssima. Sentia-se realizado com uma vaidade incontrolável. Sem notar, foi ficando uma cópia do pai, obcecado pelo mundo financeiro, relegando completamente, o casamento para segundo plano, apesar de ser apaixonado pela Isabel e pela Constança, a filha.

Havia nele uma força estranha. Tinha o fulgor da determinação para vencer na vida profissional. Mas como um fragor de ferrolhos em ferro, era dominado pela força da fraqueza sentimental: era incapaz de se entregar emocionalmente. Dizia que vivia dentro dele um demónio antigo que o impedia de ser feliz dentro de sua casa. Já tinha sido assim com o seu avô paterno, com o pai; era uma herança perante a qual não podia fazer nada. Chegou a passar semanas, sem aparecer. Depois aparecia e prometia fazer diferente; não fazia. Isabel cansou-se daquela vida; estava a morrer por dentro. A Constança, pouco a pouco ficou com raiva do pai, pela forma egoísta como ele era distante e frio.

Quando chegou vinha com um ar comprometido. Na mão trazia dois bilhetes de avião, para a Indonésia. Sorriu e disse: « O meu presente de Natal, para as duas. Sei que é um sonho de família passar-mos um tempo juntos nesses lugares apaziguadores...Mas, não posso ir, surgiram compromissos.» Isabel e Constança olharam-se cúmplices e tristes; era uma cena repetida não havia nada a fazer. Ele tinha o dom das afastar, por muito que se amassem. Era doentia, esta contradição. Partiram na semana seguinte ao encontro do desconhecido.

O tsunami da Indonésia ocorreu às 00:58:53 UTC, de 26 de dezembro de 2004. A Isabel e a Constança estavam num hotel na costa oeste de Sumatra, epicentro do terramoto submarino. Eduardo tentou todos os meios para as encontrar. Gastou fortunas com investigadores. Viajou mais de seis meses na esperança das encontrar. Finalmente foram dadas como: definitivamente desaparecidas, após intensas e variadas investigações. Passaram 7 anos. Mortas. Eduardo sentia-se o mais miserável dos homens. Culpava-se sem dó nem piedade. Fustigava a alma insaciável. Não queria ser ele. Mas era humano: não tinha o poder de alterar o passado. O que fazer com o futuro?
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A verdade é que, neste momento, ele viu dois homens iguais, nos jardins de Belém, junto ao rio Tejo, dentro da crisálida invisível, de mãos dadas: o rico e o pobre como se fossem um só homem. Estenderam as mãos para tocar os pés da Terceira Pessoa, conforme a ordem mansa e suave da menina de cabelos de ouro, pele ebúrnea e olhos cor do céu azul de Lisboa; ela sorriu, tocou na crisálida invisível e falou sem abrir a boca para os dois homens aparentemente siameses: «Está na hora da transformação. Tens que nascer de novo pois os dois são um só. Olha no olhar do outro: estende as mãos e toca nas marcas dos pés da Pessoa que dorme no banco ao vosso lado. Tens que nascer outra vez... Eduardo...»




To be Continued »

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