SÍNDROME
DA ABOBOREIRA, por PjConde-Paulino
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Depois
do naufrágio, Jonas, o mensageiro, não era mais o mesmo. A sua
rebeldia tinha ficado no mar das tormentas; onde, os peixes grandes:
os maiores, prendem os homens e as mulheres dos homens, no ventre do
egoísmo.
No
entanto, antes da novidade, da boa: Jonas, o mensageiro, correu a
cidade de lés-a-lés. Três dias. Três dias com as perninhas a dar-a-dar e a voz rouca de tanto dizer, de anunciar: as virtudes da
mudança. Uns torceram o nariz. Outros, antes do nariz chegar, fecharam a porta na cara do Jonas. Os mais pobres pediram-lhe um subsídio.
Os mais pobres dos pobres, queriam uma cana para pescar – queriam
trabalhar. Os mais ricos: os poderosos, os dos palácios e palacetes,
castelos e villas – lá para os lados de Nínive-de-Cascais -,
solicitaram-lhe o perdão da dívida, com um remanescente, de juros
bonificados. As piscinas precisavam de azulejos novos!
Imagino-o,
na Praça do Comércio de Nínive-Egoísta -E-violenta, aclarando
voz. Deu três pancadinhas no microfone, que não tinha – ainda não
fora inventado. Jonas era, assim, uma espécie de vedeta dos tempos
modernos. Apareceu, subitamente, com roupas estranhas. Pudera, fora
vomitado pela tempestade desenhada em forma de peixe. Uma espécie de
tsunami, nascido no coração dos homens e das mulheres, da
Nínive-Egoísta-E-violenta.
Aquela
sociedade era superlativamente egoísta, fútil e violenta. Não respeitavam os mais
velhos, nem os mais novos, nem a si mesmos. Quem os desafiasse era
pendurado nas vergas dos portões das muralhas e nos pelourinhos das
praças do diz-que-disse.
Jonas,
disse. Falou. Gritou. Anunciou. Vociferou e teve medo do que disse.
Afinal, as palavras, além de tudo e da vida, nem eram dele. Era um
simples mensageiro. Mas, corajosamente afoito, afoitou-se com a
promessa de vida ou de morte.
Como
embaixador, do Reino-do-Amor-Compassivo-e-Justo, com a mensagem
escrita no pergaminho, era pessoa simples, mas com mau-feitio. Vamos
espreitar, antes que o Jonas acorde da sua sesta, debaixo da
aboboreira. Leiam em silêncio, ainda assim, não acorde mal
disposto: “ Se não se arrependerem, dos maus caminhos, em quarenta
dias perecereis. Se continuardes a ser violentos, na violência
morrereis, por dentro”. Parafraseando. Só isto.
Ele,
na sua sede de vingança, queria ver a destruição daquela gente
malvada. Enganou-se. Aquelas pessoas foram dignas da oportunidade.
Mudaram de vida. O paradigma, torto, endireitou-se. Há esperança
para a Humanidade.
O
deserdo era difícil fora da cidade. Ainda assim, para servir de bálsamo e proteção à cabeça calva de Jonas, nasceu uma aboboreira linda e frondosa. Estava feliz com a simplicidade eficiente da planta. Muito
feliz. Depois, irritou-se por Deus não matar aquela gente. Quando
Jonas viu o resultado do mudança, na vida do povo ninivita, ficou
irritado. Queria fogo. Queria espetáculo. Queria ser profeta de
sinais. Mas o Rei do reino do Amor-Compassivo-e-Justo, mudou o
propósito perante a mudança de atitude da Humanidade. Afinal, somos
o que semeamos.
Estava
Jonas debaixo da aboboreira quando ela começou a secar e a deixar
de dar sombra sobre os pensamentos do nosso amigo. Perdeu a paciência
com o seu Rei. Barafustou. Praguejava e dava murros no ar até que,
inesperadamente, ouviu uma voz: “Fazes bem em te irares por causa
da aboboreira? E ele, amuado, disse: Faço bem que me revolte até à
morte. - O Rei respondeu: «Tens
pena da aboboreira, na qual não fizeste nada para que tivesse
crescido, e não hei de eu ter compaixão das pessoas e também dos
muitos animais?»
Por
vezes somos como Jonas, com o Síndrome da Aboboreira. Preferimos o
mal dos outros para mostrar que temos razão. Sabem? Quando mais me
vejo, melhor reconheço as minhas imperfeições e, nelas, quero
aprender solidariedade, Quero curar-me, todos os dias, da Síndrome
da Aboboreira.
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Nota:
Esta história é uma adaptação, livre e pessoal, da história do
Jonas - da Bíblia. Com os devidos créditos.
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