CASTELO ONDE TE SONHO POESIA

CASTELO ONDE TE SONHO POESIA

sexta-feira, 14 de novembro de 2014




QUERO O TEU REGAÇO - por PjConde-Paulino


Naquele tempo o mundo era outro.
Hoje sulco as pedras, a ressurreição,
A emoção e as ervas do caminho...

Ainda te oiço, voz, prenha de ternura
- Dentro do meu peito a entoar futuro.
Ainda beijo, lábios: ecos de tremura
- Qual menino: tímido e intrépido -,
Madrugando sou, frutos e memória.

Naquele tempo o mundo era novo.
Agora, rejuvenescidos e fecundos,
Abracemo-nos, eternos, no renovo.

Nas pérolas das lágrimas escondidas
Cintilas a beleza da vida - a esperança.
Na elegância de ontem és, mais-Ainda:
Menina-mulher - Sonho e presença...
Sinfonia turbulenta de suave ocarina.

Deixa-me sorrir, outra vez, no teu sorriso.
Deixa-me beijar-te os passos, a compasso
E adormecer, de-Novo, no teu regaço!



 

Novembro 2014 -Poema de PjConde-Paulino -

( Muitos anos depois – O reencontro, nos Jardins de Belém. Ele declama-lhe o poema que traz guardado no peito.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014


 
 

NA PERFEIÇÃO, por PjConde-Paulino


Era perfeito. Perfeito? Sim, nas imperfeições que apresentava. O mundo era novo, todos os dias, naquela terra de gente velha. Eleito, pela ordem de chegada, o morador do ano, era, entre as habitantes antigas, o assunto preferido das conversas desdentadas.

Os trinta a e oito anos eram novos e provocantes. « O rapaz, o da cidade, parece boa pessoa! Parece? Isto, quem vê caras não vê corações! Que pena, ter aquela marca na cara; não fora isso e seria perfeitinho, um príncipe.»

Cansado da cidade e do stress da profissão, decidiu, depois do acidente, voltar às origens. Voltou. Encontrou, no meio da serra, um aglomerado de casas com três casais septuagenários, três viúvas centenárias, um solteirão com menos de sessenta anos e, ainda, dois casais, com cinquenta e nove primaveras. Ah, e uma amiga de infância, da sua irmã mais velha, com 45 anos; a Rosa.

A Rosa já fora casada; enviuvou. « Está boa, esta Rosa». Pensou o “Perfeitinho” antes das dez da noite. «Nunca pensei encontrar uma flor, ainda viçosa, nestas serranias». Quando as corujas saíram para caçar ela entrou, pela porta dos fundos, para ver o filme no computador do rapaz. Com algumas imperfeições a noite aperfeiçoou-se; e, nove meses depois, a Rosa foi mãe. Ele, inesperadamente, ficou perfeito; era pai. Pai! Na perfeição do seu filho.

 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014


 
 SÍNDROME DA ABOBOREIRA, por PjConde-Paulino
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Depois do naufrágio, Jonas, o mensageiro, não era mais o mesmo. A sua rebeldia tinha ficado no mar das tormentas; onde, os peixes grandes: os maiores, prendem os homens e as mulheres dos homens, no ventre do egoísmo.
 
 No entanto, antes da novidade, da boa: Jonas, o mensageiro, correu a cidade de lés-a-lés. Três dias. Três dias com as perninhas a dar-a-dar e a voz rouca de tanto dizer, de anunciar: as virtudes da mudança. Uns torceram o nariz. Outros, antes do nariz chegar, fecharam a porta na cara do Jonas. Os mais pobres pediram-lhe um subsídio. Os mais pobres dos pobres, queriam uma cana para pescar – queriam trabalhar. Os mais ricos: os poderosos, os dos palácios e palacetes, castelos e villas – lá para os lados de Nínive-de-Cascais -, solicitaram-lhe o perdão da dívida, com um remanescente, de juros bonificados. As piscinas precisavam de azulejos novos!

Imagino-o, na Praça do Comércio de Nínive-Egoísta -E-violenta, aclarando voz. Deu três pancadinhas no microfone, que não tinha – ainda não fora inventado. Jonas era, assim, uma espécie de vedeta dos tempos modernos. Apareceu, subitamente, com roupas estranhas. Pudera, fora vomitado pela tempestade desenhada em forma de peixe. Uma espécie de tsunami, nascido no coração dos homens e das mulheres, da Nínive-Egoísta-E-violenta.

Aquela sociedade era superlativamente egoísta, fútil e violenta. Não respeitavam os mais velhos, nem os mais novos, nem a si mesmos. Quem os desafiasse era pendurado nas vergas dos portões das muralhas e nos pelourinhos das praças do diz-que-disse.

Jonas, disse. Falou. Gritou. Anunciou. Vociferou e teve medo do que disse. Afinal, as palavras, além de tudo e da vida, nem eram dele. Era um simples mensageiro. Mas, corajosamente afoito, afoitou-se com a promessa de vida ou de morte.
 
 Como embaixador, do Reino-do-Amor-Compassivo-e-Justo, com a mensagem escrita no pergaminho, era pessoa simples, mas com mau-feitio. Vamos espreitar, antes que o Jonas acorde da sua sesta, debaixo da aboboreira. Leiam em silêncio, ainda assim, não acorde mal disposto: “ Se não se arrependerem, dos maus caminhos, em quarenta dias perecereis. Se continuardes a ser violentos, na violência morrereis, por dentro”. Parafraseando. Só isto.

Ele, na sua sede de vingança, queria ver a destruição daquela gente malvada. Enganou-se. Aquelas pessoas foram dignas da oportunidade. Mudaram de vida. O paradigma, torto, endireitou-se. Há esperança para a Humanidade.

O deserdo era difícil fora da cidade. Ainda assim, para servir de bálsamo e proteção à cabeça calva de Jonas, nasceu uma aboboreira linda e frondosa. Estava feliz com a simplicidade eficiente da planta. Muito feliz. Depois, irritou-se por Deus não matar aquela gente. Quando Jonas viu o resultado do mudança, na vida do povo ninivita, ficou irritado. Queria fogo. Queria espetáculo. Queria ser profeta de sinais. Mas o Rei do reino do Amor-Compassivo-e-Justo, mudou o propósito perante a mudança de atitude da Humanidade. Afinal, somos o que semeamos.
 
 Estava Jonas debaixo da aboboreira quando ela começou a secar e a deixar de dar sombra sobre os pensamentos do nosso amigo. Perdeu a paciência com o seu Rei. Barafustou. Praguejava e dava murros no ar até que, inesperadamente, ouviu uma voz: “Fazes bem em te irares por causa da aboboreira? E ele, amuado, disse: Faço bem que me revolte até à morte. - O Rei respondeu: «Tens pena da aboboreira, na qual não fizeste nada para que tivesse crescido, e não hei de eu ter compaixão das pessoas e também dos muitos animais?»

Por vezes somos como Jonas, com o Síndrome da Aboboreira. Preferimos o mal dos outros para mostrar que temos razão. Sabem? Quando mais me vejo, melhor reconheço as minhas imperfeições e, nelas, quero aprender solidariedade, Quero curar-me, todos os dias, da Síndrome da Aboboreira.
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Nota: Esta história é uma adaptação, livre e pessoal, da história do Jonas - da Bíblia. Com os devidos créditos.
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SABE-SE DA VIDA


Sabe-se da vida o que a vida não dá.
Sabe-se tanto, sabendo, o que o tempo já disse e nos trará.

Sei o mar, as gaivotas, a maresia;
Sei do nascer para ser tudo...
Contudo: sei o pretérito e a nostalgia.
Sei o tempo e as marés subtis
O encantamento dos astros juvenis
Sei: a areia prateada e a dor de não ter nada.

Mas sabe-se da vida: os sonhos, as quimeras
Nascidas das fráguas derretidas - nas fronteiras
Do amor e do ódio...
Sabe-se que a vida não dá morte.
A sorte, perfeita no engaste, é gládio
Do Deus que tudo pode.

No entanto, os gumes afiados dos demónios,
Cortam promessas nas mentes que sucumbem
E não vencem: na peleia da maré - negra -
Da ideia já vencida...

Sabe-se que a vida é viva, é sonho e fantasia.
O que a vida não quer é morte: então, por dote - Viva!





– poema -, de PjConde-Paulino