MANIÉRE ARGUTIEUSE, por PjConde-Paulino
Na Praça das Indústrias.
Insistiam: “Foto, foto ?” Ainda na posição horizontal, habituado a estas luzes da ribalta, pensou: “Está na hora de usar a minha “manière argutieuse” para fazer o negócio do dia”-. Há dias em que se consegue bater recordes. Seria hoje o dia propício ao seu melhor negócio?
A Praça das Indústrias pululava bocas a falar outras línguas; as línguas daqui, dali e mais acolá, além do mundo longínquo. Com a sua indumentária deixou-se fotografar. Notou que não tinha voz, só ouvidos de ouvir. Ouviu o tilintar de moedas na caixa de sapatos ao lado do saco verde-sujo. Agradeceu com o silêncio plantado na ausência da voz: “Merci madame; gracias señora; thank you.”
Depois das despedidas do derradeiro grupo de turistas; a noite já era senhora e uma menina de cabelos de ouro, pele ebúrnea e olhos cor do céu azul de Lisboa, sorriu, estendeu-lhe a mão e falou sem abrir a boca melífica e bela: “Este pequeno papel dobrado estava em Paris; uma senhora disse-me para lho entregar.” O pequeno papel dobrado, misterioso, estava na mão da menina e voou com a brisa vinda do grande rio; caiu na caixa de sapatos com as moedas a tilintar a musica da família do apartamento luxuoso.
Estaria a sonhar? Olhou no fundo do olhar azul-luz da menina, entrou e viu, viu, o impensável, observou o que pensava jamais ver. Abriu a folha de papel, os seus olhos abriram-se desmesuradamente. Não queria, não podia, não e não. Era impossível; ninguém, ninguém neste mundo poderia brincar maldosamente com o desgosto profundo do seu semelhante. Adormeceu na cama feita de cartões, cobertores rasgados e sujos em almofadas de penas e desespero.
II
Numa posição fetal foi despertando ao som de muitas vozes. Um grupo de pessoas, desembarcado no último navio de cruzeiro, no renovado Porto de Lisboa, entrou literalmente pelo seu quarto adentro, de máquinas fotográficas em punho. Abriu o olhar admirado, como se fosse a primeira vez. Alguém lhe tocou e disse: “ Bonjour mon ami, ça va? Sentiu um alívio agridoce, enquanto recogitava: "Que sonho este; afinal o sonho da aflição é para todos: ricos e pobres; isso mesmo: um sonho emoldurado pelo pesadelo da perda. Sonhava-me rico mas infelizmente desesperado, no precipício da saudade sem volta. Sonhos pesados pelo preço da riqueza dolorosa."
Numa posição fetal foi despertando ao som de muitas vozes. Um grupo de pessoas, desembarcado no último navio de cruzeiro, no renovado Porto de Lisboa, entrou literalmente pelo seu quarto adentro, de máquinas fotográficas em punho. Abriu o olhar admirado, como se fosse a primeira vez. Alguém lhe tocou e disse: “ Bonjour mon ami, ça va? Sentiu um alívio agridoce, enquanto recogitava: "Que sonho este; afinal o sonho da aflição é para todos: ricos e pobres; isso mesmo: um sonho emoldurado pelo pesadelo da perda. Sonhava-me rico mas infelizmente desesperado, no precipício da saudade sem volta. Sonhos pesados pelo preço da riqueza dolorosa."
Insistiam: “Foto, foto ?” Ainda na posição horizontal, habituado a estas luzes da ribalta, pensou: “Está na hora de usar a minha “manière argutieuse” para fazer o negócio do dia”-. Há dias em que se consegue bater recordes. Seria hoje o dia propício ao seu melhor negócio?
A Praça das Indústrias pululava bocas a falar outras línguas; as línguas daqui, dali e mais acolá, além do mundo longínquo. Com a sua indumentária deixou-se fotografar. Notou que não tinha voz, só ouvidos de ouvir. Ouviu o tilintar de moedas na caixa de sapatos ao lado do saco verde-sujo. Agradeceu com o silêncio plantado na ausência da voz: “Merci madame; gracias señora; thank you.”
Depois das despedidas do derradeiro grupo de turistas; a noite já era senhora e uma menina de cabelos de ouro, pele ebúrnea e olhos cor do céu azul de Lisboa, sorriu, estendeu-lhe a mão e falou sem abrir a boca melífica e bela: “Este pequeno papel dobrado estava em Paris; uma senhora disse-me para lho entregar.” O pequeno papel dobrado, misterioso, estava na mão da menina e voou com a brisa vinda do grande rio; caiu na caixa de sapatos com as moedas a tilintar a musica da família do apartamento luxuoso.
Estaria a sonhar? Olhou no fundo do olhar azul-luz da menina, entrou e viu, viu, o impensável, observou o que pensava jamais ver. Abriu a folha de papel, os seus olhos abriram-se desmesuradamente. Não queria, não podia, não e não. Era impossível; ninguém, ninguém neste mundo poderia brincar maldosamente com o desgosto profundo do seu semelhante. Adormeceu na cama feita de cartões, cobertores rasgados e sujos em almofadas de penas e desespero.
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