CASTELO ONDE TE SONHO POESIA

CASTELO ONDE TE SONHO POESIA

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Continuação de:
MANIÉRE ARGUTIEUSE, por PjConde-Paulino
 
 


                                   Na Praça das Indústrias.
                                                     II
Numa posição fetal foi despertando ao som de muitas vozes. Um grupo de pessoas, desembarcado no último navio de cruzeiro, no renovado Porto de Lisboa, entrou literalmente pelo seu quarto adentro, de máquinas fotográficas em punho. Abriu o olhar admirado, como se fosse a primeira vez. Alguém lhe tocou e disse: “ Bonjour mon ami, ça va? Sentiu um alívio agridoce, enquanto recogitava: "Que sonho este; afinal o sonho da aflição é para todos: ricos e pobres; isso mesmo: um sonho emoldurado pelo pesadelo da perda. Sonhava-me rico mas infelizmente desesperado, no precipício da saudade sem volta. Sonhos pesados pelo preço da riqueza dolorosa."


Insistiam: “Foto, foto ?” Ainda na posição horizontal, habituado a estas luzes da ribalta, pensou: “Está na hora de usar a minha “manière argutieuse” para fazer o negócio do dia”-. Há dias em que se consegue bater recordes. Seria hoje o dia propício ao seu melhor negócio?

A Praça das Indústrias pululava bocas a falar outras línguas; as línguas daqui, dali e mais acolá, além do mundo longínquo. Com a sua indumentária deixou-se fotografar. Notou que não tinha voz, só ouvidos de ouvir. Ouviu o tilintar de moedas na caixa de sapatos ao lado do saco verde-sujo. Agradeceu com o silêncio plantado na ausência da voz: “Merci madame; gracias señora; thank you.”

Depois das despedidas do derradeiro grupo de turistas; a noite já era senhora e uma menina de cabelos de ouro, pele ebúrnea e olhos cor do céu azul de Lisboa, sorriu, estendeu-lhe a mão e falou sem abrir a boca melífica e bela: “Este pequeno papel dobrado estava em Paris; uma senhora disse-me para lho entregar.” O pequeno papel dobrado, misterioso, estava na mão da menina e voou com a brisa vinda do grande rio; caiu na caixa de sapatos com as moedas a tilintar a musica da família do apartamento luxuoso.

Estaria a sonhar? Olhou no fundo do olhar azul-luz da menina, entrou e viu, viu, o impensável, observou o que pensava jamais ver. Abriu a folha de papel, os seus olhos abriram-se desmesuradamente. Não queria, não podia, não e não. Era impossível; ninguém, ninguém neste mundo poderia brincar maldosamente com o desgosto profundo do seu semelhante. Adormeceu na cama feita de cartões, cobertores rasgados e sujos em almofadas de penas e desespero.

 
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quinta-feira, 31 de julho de 2014


MANIÉRE ARGUTIEUSE, por PjCondePaulino
 
I
 
Naquele dia o mundo girou, girou muitas horas além das vinte e quatro disponíveis. Nos últimos tempos, vivera d`une "manière argutieuse; sentia-se desiludido e defraudado com a pretensa ação, do Senhor Universal que dizem viver além das nuvens.
 
Os negócios nesses dias não lhe traziam nenhuma satisfação interior. A Imobiliarius estava em franco desenvolvimento; ganhou milhões de €uros em contraciclo com o mercado. Era olhado com admiração e alguma inveja; mas, a casa vazia ao fim da tarde entristecia-lhe o coração. Escutava os batimentos cardíacos, no compasso dos passos envernizados sobre o granito azul-lavrador do grande hall do prédio luxuoso; onde vivia, desde que perdera as pessoas mais importantes da sua vida. No elevador o som do piano invadia-lhe as células do corpo triste. Enquanto subia, andar após andar o seu olhar vagueava, através das vidraças, pela cidade com as primeiras luzes na ponte sobre rio Tejo. Notou um pequeno papel dobrado no chão do elevador, apanhou-o.

A fechadura codificada acendeu a luz verde, entrou e fechou a porta atrás de si. Ninguém o recebeu. Nenhuma voz. Nenhum olhar. O silêncio ensurdecedor fê-lo arrepiar pela ausência das vozes amadas. Deixou o casaco sobre o sofá vazio e a pasta dos documentos na mesa de vidro circular. Notou a jarra emoldurada por flores novas, ainda com a fragrância do jardim onde nasceram. Acariciou as pétalas e sorriu; através do tampo transparente viu o seu álbum favorito. Sentado no cadeirão de cor harmoniosa descalçou os sapatos pretos e arrancou a gravata do colarinho transpirado, da camisa alva. Exausto, fechou os olhos e a sua mente viajou até aos confins do grande Alentejo, onde nascera e fora tão feliz.

Depois do banho preparou uma sanduiche com duas fatias de pão integral. Meteu uma folha de alface, duas rodelas de tomate, frango desfiado, temperado com orégãos e um fio de azeite extra virgem, alentejano, oferecido pela mãe. Saboreou lentamente, intercalando com o sumo de laranja feito nessa tarde pela empregada, a Margarida.

De boxers e t-shirt sentou-se ao piano pela primeira vez, depois do acidente. Quando os dedos tocaram a superfície das teclas, tremeu e soluçou. O primeiro acorde da musica preferida da família ressoou pela sala...Chorou, chorou, chorou copiosamente, até adormecer de cansaço no grande sofá da sala.

Pareceu-lhe ouvir alguém a chamar. Era uma voz conhecida, suave, aconchegante como um abraço de ternura. Abriu os olhos estremunhado, tentou levantar-se, bateu com a perna na mesa de vidro e disse um palavrão. Estava só...Muito só. A dor na alma era terrivelmente dolorosa. Doía tanto. Morria de saudade. A vida escoava-se pelos dedos da solidão.

Estava a transpirar por todos os poros; bebeu pela garrafa a água que precisava para saciar a sede, descontroladamente insaciável. Olhou, voltou a olhar e viu; viu o pequeno papel dobrado, caído debaixo do piano. Abriu a folha de papel, os seus olhos abriram-se desmesuradamente. Não queria, não podia, não e não. Era impossível; ninguém, ninguém neste mundo poderia brincar maldosamente com o desgosto profundo do seu semelhante. Adormeceu na cama de almofadas de penas e desespero.

 

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quarta-feira, 30 de julho de 2014



A ALDEIA DA INJUSTIÇA, por PjCondePaulino

*
As aldeias grandes ficam pequenas na injustiça.
As paredes de cal sofrem o calor do esquecimento
Nas fontes de águas cristalinas onde bebe o meu povo.
Exalto o ar, as nuvens, o céu e o mar da justiça graciosa.
A paisagem – se não for adulterada – vivifica-se solidária;
As estrelas percorrem anos-luz festejando a alegria
Dos Homens-de-boa vontade em abraços de vitória...
E o Céu...O Céu-de-amor desce ao rio das correntes da Vida.


Volto o meu olhar...Observo a página por escrever
Recomeço... Volto a construir os sonhos feitos de viver.

*

*

*In “Castelos de Palavras e Sentimentos” – poema.

terça-feira, 29 de julho de 2014

JÁ NÃO SOU, por PjCondePaulino

*

Os anos de ontem já não sou.

Sou mais eu, porque cresci

e aprendi: errei e me levantei

cai de novo e ainda estou:

aprendiz, na vida que me ensinou.

Saber, não tem idade nem cidade.

Na ansiedade continua a ser e promete:

Nunca, nunca morrer, antes de saber Viver.



 
 

In@Castelo de Palavras e Sentimentos – poema.