- Entre muitas histórias, hoje dia do pai, lembro-me de uma em especial.
Nesse fim de semana o meu pai convidou-me, para ir com ele apanhar “cilarcas;” cogumelos campestres muito comuns nos campos mais selvagens do grande Alentejo.
A manhã passou rapidamente, envolvidos na vontade férrea, para descobrir o máximo de "cilarcas" debaixo das estevas e chaparros naqueles campos, qual Vasco da Gama descobrindo o caminho marítimo para a Índia - nós descobrimos mais depressa, que o navegador, aquele precioso e saboroso tubérculo, quando feito com ovos mexidos, assado nas brasas ou na sopa de feijão.
O envolvimento nesse desafio – o pai era quase sempre vencedor - como se de um derby, Benfica- Sporting se tratasse, não permitiu que, de imediato, vislumbrássemos as nuvens negras, revoltas, transportadas pelo vento furioso.
Quando o vento soprava entre as árvores o meu pai disse:
Filho, olha, temos d`ir embora; olha que o meio dia aparta o dia...
Queria ele dizer que a tarde era de temporal e que estava na hora de batermos em retirada.
No motociclo, subíamos e descíamos aquelas estradas de terra, com as pedras fazendo ricochete nos nossos pés. Subitamente, uma “carga” de agua e granizo desabou sobre as nossas cabeças – e do resto também – deixando a “raivosa” (motorizada) encostada na estrada, corremos para uma pequena árvore, único abrigo, numa área deserta e sem protecção mais adequada.
Na altura eu era um adolescente, praticamente com a altura do meu progenitor. Mas, enquanto viver e talvez na eternidade, nunca mais vou esquecer o gesto, aparentemente simples mas, tão significativo – de tal forma, que esse quadro sempre me acompanha, no meu proceder com o filho; senão vejamos:
Com o granizo a ferir o meu rosto batendo furiosamente nos nossos corpos, - ele - envolveu-me com os braços, abraçando-me para me proteger, usando o seu próprio corpo como escudo protector.
Não, não é somente um dever, é um acto de amor que infelizmente vai rareando na sociedade egocêntrica em que vivemos.
Obrigado Pai !