A AVE DO TEMPO
PjConde-Paulino
A jovem Prosa, com
os seus olhos castanhos, a brilhar, foi cumprimentar com um beijo a
ti_Natural que estava de avental branco, na cozinha, a cantarolar uma
moda alentejana, com as mãos e o rosto polvilhados de farinha;
cozinhava muitos bolos, para oferecer ao Centro de Apoio a Famílias
Carenciadas. Nessa manhã, a menina Poesia, estava particularmente
saudosista. Quando viu a prima, correu para ela e deu-lhe um abraço
muito efusivo. Estatelaram-se na relva do jardim com o rosto
afogueado. Sentadas, a menina Prosa disse para a prima Poesia:
«Agora, para ser perfeito, só falta aqui o amigo Poema». Parece
que andava, lá, para os lados da courela do Chico Musical, a colher
folhas de alecrim com o seu pai, conhecido na aldeia global por
Guarda-Livros.
Elas, as bonitas
primas, começaram a cantarolar, num dueto afinado – quase sempre
–, até que, do fundo do jardim, escutaram uma gargalhada bastante
sonora. Era o Poema, com as mãos sujas de terra e os pés descalços,
com os dedos grandes a precisarem de passar pela água do tanque.
Lançou-se, atrevido. A água saltou em mil direções e, as duas
jovens, atiraram maçãs com bicho, na cabeça loira do amigo de
infância.
Depois do banho do
rapaz, a mãe de Poesia, trouxe um lanchinho apetitoso com chá e
bolinhos. Satisfeitos, deitaram-se na relva à sombra fresca da
palmeira. Nesse momento, Poesia, recordou aos amigos um período da
história comum, quando viajavaram pelo sul de Portugal, nas asas de
uma ave de mil cores, oferecida pelo Pai CriaTivo, no dia do seu
nascimento. O nome da ave era Tempo. A Ave-do-Tempo. Poesia apertou a
mão de Poema e ele, de pálpebras cerradas, com o som da água a
correr na bica da fonte romana e os pintassilgos a chilrearem entre
as folhas das laranjeiras, declamou:
*
No
princípio Criativo fez a terra
Deformada, pelas
trevas do abismo
A poesia: pairava em
finisterra
Nas águas
infinitas, sem sofismo.
.
O
tempo, não teve tempo, e deu à
luz
O
prémio da vitória sobre as trevas
E o Poema: foi manhã
em contraluz
O primeiro, dia puro
e sem reservas.
.
Mãe-Natural
foi feliz no paraíso
Com a Prosa
rabiscando liberdade
Inspirada em poesias
de improviso
.
Pariu amor,
nesse tempo sem idade
Abençoando as
crianças e o sorriso
Da poesia: no
Poema-felicidade.
*
Os três amigos
fecharam os olhos...e voaram juntos -, nas asas da Ave-do-Tempo;
sonhando a vida, a esperança e o amor - na união das tribos, povos
e nações: através da linguagem fresca, da menina Poesia!
In Histórias da Menina Poesia -
PjConde-Paulino