CASTELO ONDE TE SONHO POESIA

CASTELO ONDE TE SONHO POESIA

sábado, 11 de outubro de 2014


 
MENINA-MULHER , por PjConde-Paulino-


Olhos verdes postos no horizonte, com as oliveiras centenárias por testemunhas. Pés pequenos, descalços, a pintarem os passos na terra fofa e solta, do terreno lavrado. Sabia-se menina desde que nascera no corpo grávido da mãe. A progenitora era amorosa, como a terra na Primavera, depois dos homens da lavoura charruarem os terrenos férteis, à volta do Monte da Pureza.
 
Nessa manhã sentiu-se grande; maior do que o tempo, maior do que os anos, maior do que o mês passado: quando a amiga da escola lhe contou que tinha sangrado e que a mãe lhe dissera: Agora já és mulher».     
 
Era o principio do ano agrícola. Os hectares da fazenda estavam nus, quase livres de vegetação, com as pequenas montanhas a norte, mais belas e salientes. Era o tempo das sementes serem lançadas à terra-mãe. A menina dos olhos-verdes já era terreno fértil. As sementes já teriam futuro, no ventre protetor da nova menina-mulher. O mundo mudou, só porque um dia, as pernas se pintaram de vermelho-sangue, a prometer ressurreição.
 
O corpo já não era bebé. As formas físicas eram novidade em cada manhã. O Sol não era igual. A Lua já tinha quartos novos. Até Jorge, o amigo de sempre, a olhava com olhos estranhamente admirados, como se vissem o mundo pela primeira vez. E os outros rapazes mais velhos, os casados, os que ainda não eram, e os homens mais conhecedores; estavam diferentes, esquisitos: nos olhares esbugalhados que lhe lançavam nas tardes quentes, quando se banhava no tanque grande da horta. Tudo mudara; só porque o seu corpo saiu do casulo da natureza. Deixou de ser menina e renasceu Mulher.
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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

A PÁTRIA DA POESIA, por PjConde-Paulino -

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Só um poema a podia salvar.
                        Só um poema...

No ventre da botelha mensageira,
a missiva reverberava o mar; na hora da canícula soalheira, leio a plangência, a palpitar.
         «Só um poema, só um poema a podia salvar!»

Minha-Pátria, prosaica e linda,
na língua preciosa de Camões; abre as gelosias da varanda, sente o pulsar dos corações.

E o diafragma dos poetas, a exorar:

         «Só um poema, só um poema a podia salvar!»

Se das palavras a poesia fosse
a liberdade que a alma sente, e entre as crianças se dissesse, aquela verdade que não mente...

Seríamos esperança, a vibrar, na poesia de um povo-novo; e o diafragma dos poetas, a clamar:

         «Só o Renovo...Só, só o Poema...a pode salvar!»


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Poema - 10/10/2014