MENINA-MULHER
, por
PjConde-Paulino-
Olhos verdes postos no horizonte, com as oliveiras centenárias por testemunhas. Pés pequenos, descalços, a pintarem os passos na terra fofa e solta, do terreno lavrado. Sabia-se menina desde que nascera no corpo grávido da mãe. A progenitora era amorosa, como a terra na Primavera, depois dos homens da lavoura charruarem os terrenos férteis, à volta do Monte da Pureza.
Nessa
manhã sentiu-se grande; maior do que o tempo, maior do que os anos,
maior do que o mês passado: quando a amiga da escola lhe contou que
tinha sangrado e que a mãe lhe dissera: Agora já és mulher».
Era
o principio do ano agrícola. Os hectares da fazenda estavam nus,
quase livres de vegetação, com as pequenas montanhas a norte, mais
belas e salientes. Era o tempo das sementes serem lançadas à
terra-mãe. A menina dos olhos-verdes já era terreno fértil. As
sementes já teriam futuro, no ventre protetor da nova menina-mulher.
O mundo mudou, só porque um dia, as pernas se pintaram de
vermelho-sangue, a prometer ressurreição.
O
corpo já não era bebé. As formas físicas eram novidade em cada
manhã. O Sol não era igual. A Lua já tinha quartos novos. Até
Jorge, o amigo de sempre, a olhava com olhos estranhamente admirados,
como se vissem o mundo pela primeira vez. E os outros rapazes mais
velhos, os casados, os que ainda não eram, e os homens mais
conhecedores; estavam diferentes, esquisitos: nos olhares
esbugalhados que lhe lançavam nas tardes quentes, quando se banhava
no tanque grande da horta. Tudo mudara; só porque o seu corpo saiu
do casulo da natureza. Deixou de ser menina e renasceu Mulher.
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