LÁPIS
DE CARVÃO,
por PjConde-Paulino
Na ponta do lápis o carvão marca a folha amarelecida pelo tempo. Eu sei que ainda somos aqueles meninos a brincar junto da oliveira onde a videira se abrigou na vinha dos teus avós. O lápis não para de desenhar os números dos dias que vivemos juntos, na alma além do físico.
Desenho
o teu sorriso discreto e o dedo da tua mão no meu nariz. Oiço as
gargalhadas puras quando montávamos os póneis-cadeiras à volta da
mesa da sala da tua mãe. Escrevo os dias da tua ausência na cidade
grande e eu perdido debaixo das azinheiras, pelo medo de te perder
para sempre. A ponta do lápis partiu-se, nesses anos, antes de te
encontrar adolescente, lá longe na cidade grande, além do tejo.
A navalha afiada serve para afiar o lápis e volto a desenhar sobre a
folha do tempo. Desenho as memórias, os desencontros os reencontros,
e o amor. Na ponta do lápis desenho-te novamente. Nem sempre
desenhei a vida com perfeição. Mas em ti encontro a vida, e esta
vontade para desenhar, meu amor.