NA
PERFEIÇÃO, por
PjConde-Paulino
Era
perfeito. Perfeito? Sim, nas imperfeições que apresentava. O mundo
era novo, todos os dias, naquela terra de gente velha. Eleito, pela
ordem de chegada, o morador do ano, era, entre as habitantes antigas,
o assunto preferido das conversas desdentadas.
Os
trinta a e oito anos eram novos e provocantes. « O rapaz, o da
cidade, parece boa pessoa! Parece? Isto, quem vê caras não vê
corações! Que pena, ter aquela marca na cara; não fora isso e
seria perfeitinho, um príncipe.»
Cansado
da cidade e do stress da profissão, decidiu, depois do
acidente, voltar às origens. Voltou. Encontrou, no meio da serra, um
aglomerado de casas com três casais septuagenários, três viúvas
centenárias, um solteirão com menos de sessenta anos e, ainda, dois
casais, com cinquenta e nove primaveras. Ah, e uma amiga de infância,
da sua irmã mais velha, com 45 anos; a Rosa.
A
Rosa já fora casada; enviuvou. « Está boa, esta Rosa». Pensou o
“Perfeitinho” antes das dez da noite. «Nunca pensei encontrar
uma flor, ainda viçosa, nestas serranias». Quando as corujas saíram
para caçar ela entrou, pela porta dos fundos, para ver o filme no
computador do rapaz. Com algumas imperfeições a noite
aperfeiçoou-se; e, nove meses depois, a Rosa foi mãe. Ele,
inesperadamente, ficou perfeito; era pai. Pai! Na perfeição do seu
filho.
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