MANIÉRE
ARGUTIEUSE,
por
PjCondePaulino
I
Naquele
dia o mundo girou, girou muitas horas além das vinte e quatro
disponíveis. Nos últimos tempos, vivera d`une "manière argutieuse;
sentia-se desiludido e defraudado com a pretensa ação, do Senhor
Universal que dizem viver além das nuvens.
Os
negócios nesses dias não lhe traziam nenhuma satisfação interior.
A Imobiliarius estava em franco desenvolvimento; ganhou milhões de
€uros em contraciclo com o mercado. Era olhado com admiração e
alguma inveja; mas, a casa vazia ao fim da tarde entristecia-lhe o
coração. Escutava os batimentos cardíacos, no compasso dos passos
envernizados sobre o granito azul-lavrador do grande hall do prédio
luxuoso; onde vivia, desde que perdera as pessoas mais importantes da
sua vida. No elevador o som do piano invadia-lhe as células do corpo
triste. Enquanto subia, andar após andar o seu olhar vagueava,
através das vidraças, pela cidade com as primeiras luzes na ponte
sobre rio Tejo. Notou um pequeno papel dobrado no chão do elevador,
apanhou-o.
A
fechadura codificada acendeu a luz verde, entrou e fechou a porta
atrás de si. Ninguém o recebeu. Nenhuma voz. Nenhum olhar. O
silêncio ensurdecedor fê-lo arrepiar pela ausência das vozes
amadas. Deixou o casaco sobre o sofá vazio e a pasta dos documentos
na mesa de vidro circular. Notou a jarra emoldurada por flores novas,
ainda com a fragrância do jardim onde nasceram. Acariciou as pétalas
e sorriu; através do tampo transparente viu o seu álbum favorito.
Sentado no cadeirão de cor harmoniosa descalçou os sapatos pretos e
arrancou a gravata do colarinho transpirado, da camisa alva. Exausto,
fechou os olhos e a sua mente viajou até aos confins do grande
Alentejo, onde nascera e fora tão feliz.
Depois
do banho preparou uma sanduiche com duas fatias de pão integral.
Meteu uma folha de alface, duas rodelas de tomate, frango desfiado,
temperado com orégãos e um fio de azeite extra virgem, alentejano,
oferecido pela mãe. Saboreou lentamente, intercalando com o sumo de
laranja feito nessa tarde pela empregada, a Margarida.
De boxers e
t-shirt sentou-se ao piano pela primeira vez, depois do acidente.
Quando os dedos tocaram a superfície das teclas, tremeu e soluçou.
O primeiro acorde da musica preferida da família ressoou pela
sala...Chorou, chorou, chorou copiosamente, até adormecer de cansaço
no grande sofá da sala.
Pareceu-lhe
ouvir alguém a chamar. Era uma voz conhecida, suave, aconchegante
como um abraço de ternura. Abriu os olhos estremunhado, tentou
levantar-se, bateu com a perna na mesa de vidro e disse um palavrão.
Estava só...Muito só. A dor na alma era terrivelmente dolorosa.
Doía tanto. Morria de saudade. A vida escoava-se pelos dedos da
solidão.
Estava a transpirar por todos os poros; bebeu pela garrafa a água que precisava para saciar a sede, descontroladamente insaciável. Olhou, voltou a olhar e viu; viu o pequeno papel dobrado, caído debaixo do piano. Abriu a folha de papel, os seus olhos abriram-se desmesuradamente. Não queria, não podia, não e não. Era impossível; ninguém, ninguém neste mundo poderia brincar maldosamente com o desgosto profundo do seu semelhante. Adormeceu na cama de almofadas de penas e desespero.
Estava a transpirar por todos os poros; bebeu pela garrafa a água que precisava para saciar a sede, descontroladamente insaciável. Olhou, voltou a olhar e viu; viu o pequeno papel dobrado, caído debaixo do piano. Abriu a folha de papel, os seus olhos abriram-se desmesuradamente. Não queria, não podia, não e não. Era impossível; ninguém, ninguém neste mundo poderia brincar maldosamente com o desgosto profundo do seu semelhante. Adormeceu na cama de almofadas de penas e desespero.
to be continued »»»
Sem comentários:
Enviar um comentário