Decidimos. Está decidido. Vamos viajar. Os sorrisos apareceram mais bonitos; ainda mais bonitos? Sem dúvida; inolvidavelmente indeléveis. Os dias e as noites não dormiam: tal a expetativa sonhada pela estrada fora, antecipando as paisagens surpreendidas pela passagem dos nossos olhares a transbordar de curiosidade.
“Pai, está na hora. A mãe já prepara o pequeno almoço.”
"Já? - Olhei,
duas horas da madrugada. Não consegui abrir os olhos de sono, num
parto difícil. Nem tinha passado uma hora. Pari a vontade perfeita
das vontades comuns. Fiquei em pé, como se acordado estivesse. Não
estava.
A “magana” estava preparada. Combustível a transbordar. Bagagens a saírem das fraldas. GPS preparado:
“Hoje temos que
fazer quase mil quilómetros. - Disse o navegador de serviço,
sentado ao meu lado com a voz grave da manhã. Não consegui emitir mais do
que um pequeno “grunhido. Ainda me sentia parturiente. Afinal,
estas horas não são para andar nestas aventuras. Minha rica
caminha.
“Eu sei que sou elegante, mas, pelo menos um lugarzinho para os meus pés de Cinderela.- A companheira de viagem estava a tentar sentar-se no seu lugar de honra. O colega do lado riu e disse:
“Olha, pergunta
ao pai. Ele é que é o especialista nos arrumos. - Riram os
dois. Eu, voltei a emitir um sonzinho gutural, sem o nexo das
palavras faladas entre os humanos.
A madrugada amanheceu nas
montanhas ainda geladas com o eco da língua castelhana. O frio da
manhã entrou-me pela pele, fora do automóvel. Cheirinho a café.
Pão quentinho nas mãos preparadoras da mamã”. Cá o “Je”
continuava a tiritar de frio com o meu “corta-vento” vestido no
corpo do nosso filho, mesclado pela alegria do roubo antecipado, do
meu casaquinho tão desejado. Mas nele também fica bem.
A chuva recebeu-nos à entrada da bela Biarritz; cidade costeira, princesa de França dignificando o oceano que a beija, na ondulação atlântica.
O Hotel era francês. A rececionista também. Aclarei a voz e disse no meu melhor francês:
“Bonne nuit. Je
suis Paulo Conde-Paulino et j'ai réservé une chambre. A
francesa, olhou para mim e respondeu solícita:
“Hola. Buenas
noches. Bienvenido a nuestro hotel.- O meu “navegador
escondeu-se atrás da mãe, a rir. A progenitora tentava,
ingloriamente, manter a pouse de Condessa. Riram
a bandeiras despregadas, duvidando da qualidade intrínseca do meu
francês.
As camas da suíte eram excelentes. Alvas e convidativas. O cansaço da viagem já não dava para as "suites-musicais numa cadeia de danças ordenadas no romantismo que nos apraz. A Condessa foi experimentar; adormeceu nos braços de Morfeu. O "Condinho” e eu, não conseguimos chegar aos respetivos leitos. Despertámos na manhã seguinte, já o sol ia alto. Tínhamos sucumbido ingloriamente nos sofás. Não chegámos a saborear o conforto dos Leitos-fraternais enfeitados pelas almofadas de penas e saudade.
Companheirismo: laços profundos. Memórias vivas...Abraços de amizade. Saudade. Vontade de voltar aos lugares onde nos sentimos livres, vivos. Recebidos com um carinho especial: verdadeiro. Amor no olhar da natureza, nossa, das coisas. Viajar com quem me ama de forma tão única... Arrebatador é o sentimento nestas viagens, ao visitar, visitando, a quem me quer tanto num companheirismo inigualável, leal, e verdadeiro.
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